O Trajeto Simbólico dos Planetas na Astrologia: Clássica vs Moderna
Desde a aurora das civilizações, os planetas foram concebidos como deuses em movimento. Suas representações simbólicas – os glifos astrológicos – evoluíram como condensações visuais de mitologias, funções celestes e princípios filosóficos. Este artigo resgata as raízes históricas desses símbolos, revelando como a astrologia clássica se diferencia da moderna não apenas nos métodos, mas também na lógica simbólica que sustenta sua cosmologia.
- Os Símbolos na Astrologia Clássica: Imagens da Função Divina
 
Na tradição clássica, os símbolos dos planetas não surgiram como abstrações. Eles eram literalmente representações dos atributos visíveis e míticos das divindades que os regiam:
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Mercúrio (Hermes): Representado pelo capacete alado. O semicírculo superior é o par de asas; o círculo, o crânio com os olhos; a cruz, o espaço do nariz e da boca. Um símbolo de velocidade, eloquência e comércio.
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Vênus (Afrodite): Um espelho de mão. O círculo representa o espelho em si; a cruz abaixo é o cabo. Aparece assim em moedas e arte romana. Símbolo de beleza, prazer e fertilidade.
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Marte (Ares): Escudo com lança. O círculo é o escudo; a seta para cima, a arma. Representa virilidade, impulso, agressividade e iniciativa.
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Júpiter (Zeus): Uma forma estilizada da letra grega zeta (Z), evocando Zeus. A aparência de um 4 é reminiscente de seu poder de expansão, justiça e proteção.
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Saturno (Cronos): A foice do tempo. O glifo evoca o instrumento de colheita e os limites da matéria. Representa disciplina, envelhecimento e sabedoria lenta.
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Sol (Hélio): Um círculo com ponto central, símbolo do olho divino, do centro vital, da fonte de luz e espírito.
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Lua (Selene): Um crescente, como barco ou foice, simbolizando as fases lunares e os ciclos da natureza.
 
Esses símbolos foram registrados em manuscritos antigos, como:
- Textos caldeus e sumérios: já indicavam representações da Lua e Sol com formas semelhantes.
 - Relíquias egípcias (como a Tábua de Esna): mostravam discos solares alados e luas crescentes associadas a deuses.
 - Manuscritos helenísticos e greco-romanos: Firmicus Maternus e Ptolomeu fazem menções aos atributos planetários, ainda que sem glifos padronizados.
 - Escritos árabes medievais: introduzem glifos mais estáveis para os sete planetas visíveis.
 
- O Surgimento da Codificação Moderna: Espírito, Alma e Matéria
 
A partir do Renascimento e especialmente com os alquimistas e esoteristas dos séculos XVI a XIX, os glifos passam a receber interpretações abstratas:
- O círculo simboliza o espírito ou o divino.
 - A cruz representa a matéria e o mundo físico.
 - O semicírculo é a alma ou psique.
 
Esses conceitos aparecem em:
- Escritos de Paracelso, Agrippa e Eliphas Levi.
 - Teosofia (Blavatsky) e Astrologia Esotérica (Alan Leo).
 - Manuais ocultistas e grimórios como Clavis Artis.
 
Com isso, os planetas ganham novas leituras:
- Mercúrio: Alma (semicírculo) sobre espírito (círculo) sobre matéria (cruz). Comunicação e inteligência.
 - Vênus: Espírito sobre matéria – amor espiritualizado.
 - Marte: Espírito saindo da matéria – ação direta.
 - Júpiter: Alma sobre espírito – expansão e ideal.
 - Saturno: Alma subjugada pela matéria – limitação e forma.
 - Sol: Espírito concentrado – fonte vital.
 - Lua: Alma em mudança – sensibilidade e memória.
 
- As Grandes Diferenças entre as Duas Astrologias Tropicais
 
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Astrologia Clássica
- Foco nos sete planetas visíveis.
 - Símbolos vinculados a imagens mitológicas concretas.
 - Ênfase nas dignidades (domicílio, exaltação, termos, faces).
 - Técnica orientada para previsões objetivas.
 - Utiliza aspectos aplicativos/separativos, casas derivadas e almuten.
 
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Astrologia Moderna
- Inclui planetas transaturninos (Urano, Netuno, Plutão).
 - Símbolos reinterpretados por códigos esotéricos.
 - Inspira-se na psicologia analítica e no autoconhecimento.
 - Usa mapas natais para desenvolvimento pessoal e espiritual.
 
 
A astrologia moderna adota uma leitura simbólica mais subjetiva e integradora, enquanto a astrologia clássica preserva os métodos antigos de observação e julgamento.
- Resumo Histórico dos Registros de Símbolos Planetários
 
- Suméria e Caldeia: já simbolizavam a Lua como foice e o Sol como disco.
 - Egito Antigo: uso de ícones solares com asas (Rá) e luas crescentes para Thoth e Ísis.
 - Grécia e Roma: consolidação dos deuses-planetários com atributos visuais claros.
 - Astrônomos helenísticos: Ptolomeu e Doroteu de Sidon associam qualidades aos planetas, mas ainda sem glifos padronizados.
 - Mundo árabe (Al-Kindi, Mashallah): transição para glifos fixos e técnicas matemáticas.
 - Europa Renascentista e alquímica: cristalização dos glifos modernos e suas abstrações esotéricas.
 
Um Legado Simbólico em Duas Linguagens
Os glifos planetários são sínteses visuais de toda uma tradição astrológica, mas sua linguagem varia com o tempo. Na astrologia clássica, cada símbolo era um selo funcional – um espelho, uma foice, uma lança. Já na astrologia moderna, eles se tornam fórmulas do espírito, alma e matéria.
Entender essa trajetória simbólica permite ao astrólogo caminhar com um pé na história e outro na alma humana, conciliando os céus antigos com as buscas contemporâneas.
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