Entre o Cosmos e a Pedra
Desde que o homem ergueu os olhos para o céu e percebeu a dança ordenada dos astros, nasceu a intuição de que o destino da Terra e de seus habitantes estava inscrito em uma narrativa maior. A contagem do tempo que conhecemos — aquela que cresce em ordem a partir do “Ano 1 d.C.” — trouxe consigo a ideia de progresso, de ascensão, de caminhar para frente. Mas, antes disso, a memória humana estava mergulhada em um tempo retroativo, onde os ciclos pareciam girar para trás, como se o universo nos devolvesse a um ponto de origem.
O Zodíaco e o Tempo que Anda para Trás
Na astrologia, as Eras Astrológicas são definidas pelo movimento da precessão dos equinócios — um deslocamento sutil, mas constante, que faz o Sol recuar no zodíaco a cada 2.160 anos. Hoje falamos da Era de Aquário, depois de termos vivido a de Peixes. Mas se caminharmos para trás, mergulhamos em eras retroativas: Áries, Touro, Gêmeos… até alcançar tempos imemoriais, quando o ser humano sequer havia inventado a palavra escrita.
E aqui surge uma pergunta intrigante: teriam existido eras como Capricórnio, Aquário ou Sagitário muito antes de o calendário “começar”?
A resposta simbólica é sim. Não para o homem histórico que conhecemos, mas para os homens primordiais, aqueles que caminhavam nas savanas africanas ou nas margens dos rios asiáticos, moldando pedras e descobrindo o fogo. Cada era, retroativamente, poderia ecoar como um arquétipo no inconsciente coletivo — uma matriz que marcava não a civilização escrita, mas a própria formação da espécie.
Quem Criou as Eras?
As Eras Astrológicas não foram inventadas por uma única pessoa, mas sim descobertas a partir de um fenômeno astronômico chamado precessão dos equinócios.
Esse movimento foi identificado pela primeira vez pelo astrônomo grego Hiparco de Niceia (cerca de 190–120 a.C.). Ele observou que as estrelas fixas pareciam se deslocar lentamente no céu, como se o próprio zodíaco andasse “para trás”. Esse recuo é de aproximadamente 1 grau a cada 72 anos, e faz com que o ponto do equinócio de primavera percorra todo o círculo zodiacal em cerca de 25.920 anos.
Foi a partir dessa descoberta que os astrólogos começaram a pensar em grandes ciclos de tempo, nos quais cada signo regeria uma “era” de aproximadamente 2.160 anos.
- Assim, quando o ponto do equinócio estava em Touro, falava-se na Era de Touro (época dos cultos ao touro sagrado no Egito e em Creta).
- Quando entrou em Áries, tivemos a Era de Áries (marcada por conquistas, guerras e religiões centradas no sacrifício do cordeiro).
- Em seguida, veio a Era de Peixes (com o símbolo do Cristo e o peixe como arquétipo central do cristianismo).
- E agora, a humanidade caminha para a Era de Aquário.
Portanto, podemos dizer que as eras foram descobertas por Hiparco e depois incorporadas pelos astrólogos da tradição helenística e medieval, como uma espécie de “relógio cósmico” que mede o pulso da história.
A África, Berço da Humanidade
As descobertas de fósseis como Lucy (Australopithecus afarensis), com mais de 3 milhões de anos, ou o Garoto de Turkana (Homo erectus), datado de 1,5 milhão de anos, apontam a África como matriz do humano. A “Era de Leão” (cerca de 10 mil anos a.C., quando o Sol nascia nesse signo no equinócio de primavera) coincide com a domesticação do fogo, das artes e dos ritos, pois Leão é símbolo da chama, do teatro da vida e da realeza do espírito. Já uma “Era de Virgem” poderia corresponder à revolução agrícola, quando o homem passou a cultivar a terra — Virgem, signo do trigo e da colheita.
Se seguimos ainda mais para trás, eras como Capricórnio e Aquário retroativos poderiam estar ligadas à adaptação do homem ao gelo, às cavernas e ao instinto de sobrevivência coletiva. Capricórnio é o signo das montanhas, da resistência e do osso — não por acaso, a arqueologia revela ossadas de hominídeos que nos contam sobre a luta contra a morte. Aquário, signo da comunidade, talvez ecoe nos bandos que se uniam para caçar mamutes e enfrentar as intempéries.
A China e o Crânio de Yunxian 2
A recente análise do crânio Yunxian 2, de cerca de 1 milhão de anos, encontrado na China, sugere que os ramos da árvore genealógica humana se separaram mais cedo do que se imaginava: Homo sapiens, Neandertais e Denisovanos podem ter ancestrais comuns com 1,3 milhão de anos. Isso empurra nossa história para trás e reforça a ideia de que a humanidade é uma colcha de retalhos cósmica, espalhada em continentes e eras.
Enquanto a África guardava o fogo original, a Ásia poderia ter sido o berço de linhagens paralelas, como se o céu projetasse diferentes arquétipos em diferentes regiões da Terra, cada qual vivendo sua própria “era astrológica retroativa”.
Além dos Anunnakis: A Evolução Simbólica
Muito antes das narrativas sumérias que falam dos Anunnakis, deuses que teriam trazido conhecimento às primeiras civilizações, já existia um humano arcaico que olhava para o firmamento. Talvez não interpretasse estrelas como “constelações”, mas como olhos brilhantes de animais noturnos. Talvez visse no trovão a voz dos deuses, no rio a serpente cósmica.
Esses homens e mulheres viviam eras retroativas que não são descritas em livros, mas permanecem gravadas em ossos, cavernas e na memória profunda do inconsciente coletivo.
Retroativo e progressivo
As eras retroativas são mais do que um exercício de astrologia ou arqueologia: são um meridiano de ressonâncias que liga o humano de hoje ao humano primordial. Quando pensamos se existiu uma “Era de Capricórnio” antes do “ano 1”, estamos, na verdade, perguntando se o osso quebrado e cicatrizado de um Homo erectus ou o olhar curioso de Lucy já estavam afinados com os mesmos arquétipos que hoje reconhecemos em nós.
O tempo, afinal, não caminha apenas para frente. Ele pulsa em espiral — retroativo e progressivo — como o próprio zodíaco.
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