domingo, 12 de outubro de 2025

Salomão e a Rainha de Sabá


Encontros de Sabedoria e Misticismo que Transcendem o Tempo

Por Sidnei Teixeira
(Especial para o Blog de Astrologia Clássica e Tradições Antigas)


👑 O Rei que Buscou o Infinito

Salomão, o lendário rei de Israel, atravessa os séculos como uma das figuras mais misteriosas e fascinantes da tradição espiritual da humanidade. Celebrado por sua sabedoria e justiça, foi também um homem inquieto, cuja busca por conhecimento ultrapassou as fronteiras da religião e da cultura.

Mais do que um governante, Salomão representa o homem que ousou compreender os segredos do cosmos, os códigos invisíveis que regem tanto os céus quanto a alma humana.

A Bíblia descreve que, ainda jovem, Salomão pediu a Deus “um coração compreensivo para governar e discernir entre o bem e o mal” (1 Reis 3:9). Esse pedido, aparentemente simples, escondia uma das maiores aspirações da mente humana: compreender o princípio que move a Criação.


🔮 O Pedido de Sabedoria e o Dom do Discernimento

Diz o texto sagrado que Deus, tocado pela humildade de Salomão, concedeu-lhe não apenas sabedoria sem igual, mas também riquezas e honra. Assim nascia a lenda do rei sábio, cujos julgamentos e escritos se tornaram símbolos do entendimento superior.

Livros como Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos, tradicionalmente atribuídos a ele, revelam um homem que transitava entre o pragmatismo da vida e o mistério do amor divino.

Suas reflexões indicam uma sabedoria que não é apenas intelectual, mas transcendental — uma sabedoria que reconhece a unidade entre o visível e o invisível.


🌍 Influências Culturais e a Busca Universal

O que realmente tornou Salomão uma figura singular foi sua abertura para o conhecimento estrangeiro. Casou-se com mulheres de diferentes povos — moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hititas — e com isso, entrou em contato com os deuses, símbolos e ciências dessas civilizações.

Essas uniões, criticadas pelos escribas hebreus como um desvio que levou à idolatria, foram na verdade pontes culturais que o conectaram a sistemas de pensamento mais antigos — herdeiros da sabedoria babilônica, egípcia e fenícia.

Em 1 Reis 11:5, lê-se que “Salomão seguiu Astarote, deusa dos sidônios.” Esse versículo, frequentemente interpretado como um erro espiritual, pode também ser visto como indício de um homem que buscava nas múltiplas formas de divindade a essência comum que unifica o Todo.


✡️ Salomão e a Tradição dos Mistérios

Com o passar dos séculos, a figura de Salomão ultrapassou as fronteiras da história bíblica e penetrou o terreno do misticismo universal.

Na tradição judaica tardia e nos escritos apócrifos, ele aparece como guardião de segredos celestes e invocador de forças sutis.

Os antigos grimórios — como a Clavicula Salomonis (Chave de Salomão, século XIV–XV) e o Testamentum Salomonis (séculos I–V d.C.) — o descrevem como aquele que dominava os espíritos elementais e conhecia os nomes secretos de Deus.

Ainda que esses textos sejam pseudepigráficos, refletem a convicção de que Salomão possuía o conhecimento das correspondências entre o mundo visível e o invisível — base da ciência espiritual que inspirou alquimistas e cabalistas medievais.


🌬️ Salomão no Alcorão: O Profeta e o Senhor dos Ventos

No Alcorão, Sulayman é venerado não apenas como rei, mas como profeta — sem qualquer menção à idolatria.

Segundo a tradição islâmica, Allah concedeu-lhe o domínio sobre os ventos e a capacidade de dialogar com os jinns (espíritos de fogo) e com os animais.

Em Sura 27 (An-Naml), Salomão surge como ser de luz e poder, governando homens e criaturas invisíveis, e enviando uma carta à Rainha de Sabá por meio de um pássaro hudhud.

Essa imagem simboliza o homem que compreendeu e ordenou as forças caóticas do espírito, transformando-as em harmonia e sabedoria.


👸 A Rainha de Sabá: O Encontro dos Dois Polos da Sabedoria

A visita da Rainha de Sabá é o ponto mais poético de toda a narrativa.

Ela surge como uma monarca poderosa, vinda do sul — da antiga Sabá (atual Iêmen e Etiópia) — trazendo riquezas, especiarias e enigmas.

A Bíblia relata que ela visitou Salomão “para pô-lo à prova com perguntas difíceis”. Esse episódio é mais do que diplomacia: representa o encontro entre a sabedoria do Oriente e a sabedoria do Ocidente, o casamento simbólico entre o conhecimento intuitivo e o raciocínio lógico.

Impressionada com a sabedoria do rei, a Rainha — Bilqis no Alcorão — reconheceu nele não apenas um governante, mas um iniciado.

Na tradição etíope, desse encontro nasceu um filho, Menelik I, que levou a Arca da Aliança para a Etiópia, conforme a Kebra Nagast (século XIV).

Assim nasceu a Dinastia Salomônica, que perdurou até o século XX, unindo Israel e Etiópia sob um mesmo símbolo: a Arca como ponte entre o Céu e a Terra.


🜂 A Dimensão Esotérica: Salomão e o Arquétipo do Sábio Universal

No Ocidente, Salomão foi absorvido pelos círculos herméticos e alquímicos.

O famoso Selo de Salomão — hoje conhecido como Estrela de Davi — representa a união dos opostos: fogo e água, espírito e matéria.

Para os alquimistas, Salomão era o mago-filósofo, o homem que compreendeu a unidade entre as leis divinas e naturais, ecoando as antigas tradições babilônicas, onde o rei-sacerdote era o guardião dos astros e dos calendários.

É a lembrança da astro-sabedoria primordial, que unia observação celeste e compreensão espiritual.


🕊️ O Legado Espiritual e o Significado Contemporâneo

O fascínio por Salomão não reside apenas em suas conquistas materiais, mas em sua jornada interior.

Ele representa o homem que, mesmo cercado por poder e riquezas, volta-se para dentro de si em busca da essência.

Sua história recorda que a verdadeira sabedoria não está em acumular conhecimento, mas em reconhecer a harmonia entre todas as coisas.

A visita da Rainha de Sabá simboliza o diálogo eterno entre civilizações, a reconciliação entre fé e razão, entre masculino e feminino, entre o visível e o oculto.

É o reencontro dos dois polos da sabedoria — um arquétipo vivo nas tradições espirituais e escolas de mistério de todos os tempos.


🕯️O Eco da Sabedoria Eterna

De Jerusalém a Meca, de Axum à Babilônia, de templos a grimórios, o nome de Salomão ecoa como símbolo do ser humano em busca da verdade total.

Seu legado, reinterpretado ao longo dos milênios, sobrevive como ponte entre fé, filosofia e ciência dos antigos.

Talvez a verdadeira lição de Salomão seja esta:
Buscar sabedoria é buscar a centelha divina que habita em tudo.

E, assim como a Rainha de Sabá cruzou desertos para ouvir sua voz, nós também seguimos cruzando os desertos do tempo em direção à mesma luz.

🜂 “A sabedoria é um espelho do eterno na mente do homem.”
— Fragmento inspirado na tradição salomônica




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